quinta-feira, 3 de abril de 2008

O filme na visão de Almir Feijó

Delinqüentes juvenis, de cérebros miseráveis, se matam em meio a neons, o kitsch mais derrapante e carros modernos, enquanto dialogam num Inglês arcaico com sotaque americano.
Se existisse justiça na Terra, o diretor, os produtores (Luhrmann, com Gabriella Martinelli), os roteiristas (Luhrmann, com Gary Pearce, do texto de Shakespeare, encenado pela primeira vez em 1596) e os atores principais, Leonardo DiCaprio (Romeu) e Claire Danes (Julieta), deixariam o set de produção deste filme já algemados.

Um juiz leria a acusação: tentativa de destruição de patrimônio cultural da Humanidade.

Em seguida, seriam conduzidos a um paredón. Após as formalidades de praxe, seriam fuzilados ao mesmo tempo, em execução coletiva. Por precaução, os condenados seriam ainda enforcados, depois de baleados.

O lixo coletivo que produziram não é apenas uma porqueira grossa e obscena. Trata-se de perfeita merda, agravada por estarrecedora soberba intelectual – o olhar de paisagem próprio dos iletrados, os medíocres.

O pior é a pretensão de transformar o texto de Shakespeare, a mais bela tragédia de amor de todos os tempos, em algo moderno, entre aspas. Por moderno, ou muderno, na versão carne de sol, entenda-se material recondicionado para o consumo entre degustadores de hambúrgueres e batatas fritas, com frapê de morango como aperitivo.
Em outras palavras, é um filme para jovens. O resultado é um insulto.

De Verona, Norte da Itália, a ação se transfere para Verona Beach, na Califórnia, quatrocentos anos depois. Ao invés do ódio entre os Cappuletto e os Montecchio, o que temos agora são brigas de gangues – violência urbana, drogados e drag queens, ao som de rock pauleira.

Ação videocliposa (embalada pelo Butthole Surfers e Des’ree, entre outros), chicanos e tiras violentos, onde antes tínhamos poesia, elegância, gênio. Haja Sonrisal. Num país islâmico de coturno médio, a cambada seria também chicoteada em praça pública, antes de mandada para o inferno.

(William Shakespeare’s Romeo And Juliet, Baz Luhrmann, EUA, 1995)
Pete Postlethwaite faz um frei Lawrence careca e abismal. Diane Venora é Glória Capulat, Paul Sorvino é seu marido, Fulgencio Capulat. Com John Leguizano como o Tybbalt de bigodinho e gestual de Cantinflas, Harold Perrineau como Mercutio e Curtis Hall como o capitão Prince. Desenhos de produção de Catherine Martin, com figurinos de Kym Barret, cenografia de John Cha-Cha O’Connell. Montagem de Jill Blicock, chupada das reportagens da MTV.

Veja o Filme

Nenhum comentário: