A história de Shakespeare, que tem sido sinônimo do amor através dos séculos, e a música de Prokofiev que colhe e traduz toda a magia nela contida, exigiu na criação e montagem da luz um trabalho capaz de completar o clima que sem dúvida encantará a todos que assistirem. Luzes que permitirão ver a beleza do conjunto formado pelo cenário, já concluído, e os figurinos que recebem os detalhes finais de acabamento.
Todo o laborioso processo de criação de um espetáculo se complementa com a luz. É este elemento que dará a visibilidade a tudo que foi feito. Se a luz não for exata, estarão prejudicados todos os demais trabalhos como cenário, figurinos e a própria coreografia. É a luz do espetáculo que, em última análise, permitirá que detalhes importantes não fiquem escondidos ou modificados de forma imprópria por cores e áreas de iluminação.
Foi acompanhando a elaboração da coreografia, a construção do cenário e assistindo incansavelmente de forma atenta aos ensaios que Carlos Kur e Cleverson Cavalheiro criaram a iluminação do espetáculo Romeu e Julieta, que agora está sendo montada no palco do Guairão, já com o cenário, e onde serão feitos os ensaios de palco a partir desta segunda-feira.
Mais de 200 refletores estão sendo utilizados pela equipe técnica do Teatro Guaíra, que reúne técnicos com bastante experiência na área.
Já no início do ano o Centro Cultural Teatro Guaíra começou o processo de restauração e modernização das varas de iluminação, feito pelos técnicos da casa, com custo único dos equipamentos adquiridos. Nova cablagem e fiação foram colocadas, deixando o processo todo mais dinâmico e versátil. As varas restauradas proporcionam, hoje, muito mais recursos aos técnicos que montam as luzes dos diversos espetáculos. Para maior segurança do Teatro e de quem trabalha, foi construída uma sanca aérea para sustentação de cabos. Isto faz com que o Guairão, já com trinta e quatro anos de existência e que não tinha sido objeto de manutenção deste tipo, ganhe um upgrade importante deste ponto de vista.
Dentro do programa de reforma, foram adquiridos “leds” (Light Emitting Diode ou diodo emissor de luz), equipamentos capazes de proporcionar mudanças e nuanças de cores de forma muito mais dinâmica que os refletores tradicionais.
Com tudo isso a luz de Romeu e Julieta será tão completa e sofisticada quanto cenários e figurinos. Enfim, do ponto de vista técnico, o Teatro Guaíra está providenciando para que os trabalhos do coreógrafo, dos bailarinos, do maestro e da orquestra recebam a moldura adequada à grandiosidade do espetáculo.
Carlos Kur, que fez a criação da luz em parceria com Cleverson Cavalheiro, fala da importância da luz na concepção do espetáculo, citando o primeiro versículo do Gênesis da Bíblia: “Deus disse: “Haja luz” e houve luz. Deus viu que a luz era boa...”. “É a luz que dará a visibilidade de tudo que se fez para o resultado final da montagem e o encantamento da platéia pelo conjunto de elementos cênicos. Ela complementa a linguagem do espetáculo. Deve agregar novos elementos ao conjunto que se pretende transmitir ao público.” Segundo Kur, as marcas e cores das luzes são responsáveis pelo “clima” do espetáculo. Ela atua diretamente no referencial psicológico de cada espectador, provocando em cada um reações diferentes, fruto da própria experiência individual com as cores. Lembra que a evolução técnica dos equipamentos, que hoje são mostrados a todo momento em grandes shows, fazem com que o público torne-se cada vez mais exigente no que diz respeito à iluminação. “Ninguém mais aprecia um espetáculo que não tenha uma luz bem elaborada. Faz parte da expectativa de quem vai a um espetáculo.”, afirma ele. Considera ainda a evolução técnica dos equipamentos, que vem ampliando o leque de opções para os técnicos em iluminação. As ferramentas hoje existentes são de excelente qualidade e possibilitam escolher o que é mais adequado. Por outro lado, o técnico é quem é o artista. Essas ferramentas apenas irão reproduzir o que foi criado. Há, portanto, que se utilizá-las de forma adequada.
Uruguaio, radicado no Brasil há muitos anos, Carlos Kur, que por muitos anos foi o Chefe da equipe Técnica do Teatro Guaíra, conta que assistiu a onze récitas do balé Romeu e Julieta na Ópera de Paris, com a coreografia de Rudolf Nureyev. Apaixonado confesso pela música de Prokofiev, quando assistiu às récitas, disse a si mesmo: “Não posso morrer sem fazer Romeu e Julieta”. Tendo em seu currículo de cenógrafo e iluminador um sem número de óperas e balés, a oportunidade de fazer Romeu e Julieta surgiu agora, realizando assim um antigo sonho.
Durante a montagem é possível ver o entusiasmo dos técnicos envolvidos na montagem, que têm a consciência de que montam um espetáculo para tornar-se inesquecível.
Wilson Pinheiro, um dos mais experientes da equipe e responsável pelo palco do Guairão, afirma que sua maior satisfação é ver o resultado final do espetáculo. “Quando é bom e que a gente sente que atingiu o objetivo, a satisfação compensa as longas horas de montagens de equipamentos. É assim que a gente se sente recompensado. Parte daqueles aplausos da platéia é nossa.” Diz ainda que uma das melhores coisas do trabalho é a possibilidade de contato com técnicos de outros locais em função da troca de informações que se estabelece, sendo um aprendizado constante. Wilson foi um dos responsáveis pela reforma das varas de iluminação e instalação dos novos equipamentos.
Guerreiro (Valdevino Guerreiro) é outro dos técnicos que têm participação muito ativa na equipe. Começou no Teatro Guaíra em funções administrativas mas foi na iluminação que encontrou o real prazer no trabalho. Entre outras funções, acompanhou o G2 Cia de dança por diversas tournês pelo interior do Estado, tendo a oportunidade de fazer a montagem da iluminação em espaços de todo o tipo.
João Santos apesar de estar há dois anos na equipe, possui a mesma vibração dos demais componentes. Iniciou como funcionário público em tarefas que nada tinham haver com a Cultura. Antes de vir para o Teatro Guaíra era funcionário da Junta Comercial. “O trabalho de afinar todo este material é muito gratificante quando a gente vê que tudo funciona. É bacana trabalhar aqui.”, conta ele.
Euzio Romildo, apesar de não ser funcionário do quadro do Estado, está há muitos anos ligado ao Teatro Guaíra, tendo exercido funções administrativas antes de participar da equipe técnica. “O melhor de montar a luz é quando a gente vê que o palco começa a clarear como se o sol estivesse nascendo.”
Por todos estes aspectos, a equipe acredita que o seu trabalho irá agregar muita beleza à magia da obra que está sendo criada.
Fonte: Site Teatro Guaíra
terça-feira, 15 de abril de 2008
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