segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Balé Romeu e Julieta e a versão Teatro Guaíra

O Balé
Romeu e Julieta tem merecido a tenção de alguns dos maiores compositores da história da música erudita. O texto de William Shakespeare tem servido de inspiração para peças de rara beleza que foram escritas por nomes como Tchaikosky, Gounod e Berlioz e constantemente integram o programa das grandes orquestras sinfônicas de todo o mundo. A música desses gênios tem conseguido captar toda a magia e a profundidade do pensamento shakespeareano.

E a obra de Prokofiev consegue expressar com rara propriedade tudo que o universo de Romeu e Julieta encerra como obra social, pessoal, classista e de valor historio, como se o grande compositor russo houvesse sido enfeitiçado pela força de Shakespeare.

Em 1935 Sergei Prokofiev compôs a primeira versão do balé Romeu e Julieta, por encomenda feita pelo famoso Teatro Kirov de Leningrado em 1934. O compositor observou fidelidade total ao argumento de Shakespeare, o que desagradou à direção do Teatro. A duração de três horas da obra e o fato de Prokofiev negar-se a compor uma música nos moldes tradicionais e a dar à história um “final feliz”, fez com que o Kirov recusasse o balé. O Balé Bolshoi interessou-se pela obra que, posteriormente, considerou-a “indançável”. A obra estreou somente em 1938 com o o Ballet de Brno. O espetáculo foi montado por seu Diretor Artístico, I. V. Psota, que também dançou o papel de Romeu, tendo a bailarina Zora Semberova interpretado Julieta. A estréia foi um absoluto sucesso, fazendo com que o Ballet Kirov e o Ballet Bolshoi o incluíssem em seus repertórios posteriormente.

A estrutura original da obra, quem tem aproximadamente três horas de duração, é dividida em quatro atos e dez quadros, seguindo fielmente o roteiro da obra de Shakespeare.

A partir da partitura original, Prokofiev fez três suítes para orquestra, que conservam a unidade e a beleza da do balé completo. Tanto a obra na íntegra quanto as suítes são consideradas composições extremamente importantes dentro do gênero. Isso faz com que a obra faça parte dos programas dos grandes teatros, tanto em sua forma sinfônica quanto sua forma coreográfica.

Apesar do compositor já contar com mais de 43 anos quando compôs o balé, a obra é repleta de uma jovialidade ímpar. Nela pode-se sentir a ousadia imatura de seus personagens, o andamento gracioso de suas danças e paixão frenética dos protagonistas adolescentes, em contraponto com a intransigência os ódios e rancores dos personagens paternos. No balé Romeu e Julieta o gênio de Shakespeare associado ao de Prokofiev nos conduz a um paradoxal estado de tensão associado à beleza da música que envolve a tragédia.

O Balé Romeu e Julieta na Versão do Teatro Guaíra
A montagem do Teatro Guaíra apresenta uma concepção original do coreógrafo Luiz Fernando Bongiovanni, que se caracteriza por afastar-se do tradicional e apresentar elementos que permitam ao público identificar a história com o seu cotidiano. O Coreógrafo se utiliza da simbologia das Parcas*, cuja presença permeia as cenas do espetáculo, como se fossem as reais condutoras do destino.

As concepções de cenários, figurinos e iluminação acompanham a proposta e se traduzem num cenário versátil, concebido por Carlos Kur e Cleverson Cavalheiro, que apesar de constituído por duas toneladas de ferro é manipulado facilmente pelos bailarinos em cena, graças a engenharia da equipe técnica do Guaíra; os figurinos de Paulinho Maia, ricamente confeccionados, não seguem estilo ou época, sendo alguns concebidos propositadamente com uma mistura de elementos capaz de transmitir ao espectador uma mensagem para além do significado do personagem que o veste; a iluminação, também da dupla Carlos Kur e Cleverson Cavalheiro, é extremamente sofisticada e se utiliza, além de uma quantidade considerável de equipamentos, de climas capazes de emprestarem a cada cena vários significados.

A obra foi reduzida para aproximadamente uma hora e meia de duração, das cerca de três horas originais, para que o espetáculo ganhasse em dinamismo e atualidade. O maestro italiano Andréa Di Mele, rege as récitas em que participa a Orquestra Sinfônica do Paraná. O regente foi convidado por ser um especialista em Prokofiev. Segundo ele, apesar da grande paixão que tem por toda a obra do compositor, pela grandiosidade de suas sinfonias e concertos, o balé Romeu e Julieta tem como encantamento específico a magia que Prokofiev conseguiu imprimir à música, transmitindo as emoções da peça de Shakespeare, fazendo com através dela possam ser identificadas a paixão, o amor, a rivalidade, a ternura, o ódio e a raiva. Diz ainda que a sonoridade peculiar da Orquestra Sinfônica do Paraná e o fato desta se adaptar como poucas ao seu gestual contribuem para que se tenha um espetáculo de altíssimo nível.

*As Parcas
Normalmente os indivíduos, desde o começo dos tempos, procuram construir sua existência de acordo com aquilo que julgam fazê-los mais felizes. Entretanto, apesar dessa escolhas planejadas, o imponderável atua, a todo momento, fazendo com que a vida de cada um não transcorra exatamente como o previsto. Todos acabam por vivenciar situações, positivas ou negativas que não foram escolhas.

Em sua mitologia, os gregos atribuíam esse fato ao que chamamos de Destino, representado pela existência da Moiras ou Parcas.

As Parcas eram três irmãs que determinavam o destino tanto dos Deus quanto dos seres humanos. Cloto, Láquesis e Átropos eram mulheres lúgubres que teciam e cortavam o que seria o fio da vida. O tear utilizado era a Roda da Fortuna que posicionava o fio de cada indivíduo no topo ou no fundo, explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte. São retratadas como mulheres velhas e severas ou como virgens sombrias

Cloto, que em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Atuava como deusa dos nascimentos e partos.

Láquesis, cujo significado é "sortear", puxava e enrolava o fio tecido. Láquesis sorteava o quinhão de atribuições que se ganhava em vida, determinando-lhe também o comprimento da existência. Era a deusa do matrimônio.

Átropos, "afastar" em grego, era a que cortava o fio da vida, determinando seu fim. Era a Deusa da morte.

Como deusas do Destino, as Parcas presidiam os três momentos culminantes da vida humana: o nascimento, o transcurso e a morte.

O significado das parcas e sua atuação aparecem em muitos das obras literárias de diversos autores.

Em Shakespeare vamos encontrá-las em Macbeth, nas figuras das três feiticeiras, que a si mesmo chamam de Parcas. Predizem Macbeth será Barão de Glamis, Barão de Cawdor e Rei. E mais adiante estabelecem as três condições para sua derrota.

Fonte: Site Teatro Guaíra, por César Fonseca

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